O Coração de Jesus e de Maria ao Mundo

O Coração de Jesus e de Maria ao Mundo

terça-feira, 25 de março de 2014

«Salve, ó cheia de graça»


Esta mulher será Mãe de Deus, porta de luz, fonte de vida; Ela reduzirá a nada a acusação que pesava sobre Eva. A esta mulher, «os grandes do povo rendem-lhe homenagem» (Sl 44,13), os reis das nações prostrar-se-ão perante Ela oferecendo-lhe presentes […]; mas a glória da Mãe de Deus é interior: é o fruto do seu seio.

Mulher imensamente digna de ser amada, três vezes feliz, «bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre» (Lc 1, 42). Filha do rei David e Mãe de Deus, Rei do universo, obra-prima com que o Criador Se regozija […], tu serás o apogeu da natureza. Porque a tua vida não será para ti, não foi para ti que nasceste, mas a tua vida será para Deus. Vieste ao mundo para Ele, servirás para a salvação de todos os homens, cumprindo o destino por Deus fixado desde todo o sempre: a encarnação do Verbo, sua Palavra, e a nossa divinização. Tudo o que desejas é alimentar-te das palavras de Deus, fortificar-te com a sua seiva como «oliveira verdejante na casa do Senhor» Sl 51,10), «como a árvore plantada à beira das correntes» (Sl 1,2), tu, a «árvore da vida» (Gn 2,9) que «produz frutos doze vezes, um em cada mês» (Ap 22,2). […]

O que é infinito, sem limites, veio morar no teu seio; Deus, o Menino Jesus, alimentou-Se do teu leite. Tu és a porta de Deus sempre virginal; as tuas mãos seguram o teu Deus; os teus joelhos são um trono mais elevado do que os querubins. […] Tu és a câmara nupcial do Espírito, «um rio! Os seus canais alegram a cidade de Deus», isto é, a torrente dos dons do Espírito. Tu «és formosa, a bem amada» de Deus (Ct 4,7).

São João Damasceno (c. 675-749), Monge, Teólogo, Doutor da Igreja
Homilia sobre a Natividade da Virgem, § 9; SC 80

quarta-feira, 19 de março de 2014

 «Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor»




Como foi fiel em humildade, este grande santo [que festejamos]! E tal não se pode dizer com base na sua perfeição pois, apesar de ser quem era, em que pobreza e opróbrio viveu durante toda a sua vida! Pobreza e opróbrio sob os quais escondeu e encobriu as suas grandes virtudes e a sua dignidade. […] Na verdade, não tenho dúvida nenhuma de que os anjos, cheios de admiração, vieram em bando considerar e admirar a sua humildade, quando ele guardava o Menino na oficina onde praticava o seu ofício, para alimentar o Filho e a Mãe que lhe estavam confiados.


Não há dúvida de que São José foi mais valente que David e mais sábio que Salomão [seus antepassados]; no entanto, vendo-o reduzido ao exercício da carpintaria, quem poderia conceber tal coisa sem estar iluminado pela luz celeste, tão bem escondidos ele trazia os dons admiráveis com que Deus o tinha agraciado? Mas tinha de ter muita sabedoria, visto que Deus tinha posto a seu cargo o seu glorioso Filho […], o Príncipe universal do céu e da terra! […] E, apesar de tudo, vedes como ele se rebaixou e humilhou mais do que se poderia dizer ou imaginar […]: foi à sua terra, à sua cidade de Belém, e ali ninguém foi mais rejeitado por todos do que ele. […] Vede como o Anjo o conduz à sua vontade: diz-lhe que tem de ir para o Egito e ele vai; ordena-lhe que regresse e ele regressa. Deus quer que ele se mantenha sempre pobre […], e ele a isso se submete amorosamente, e não apenas durante algum tempo, pois permaneceu pobre toda a sua vida.


São Francisco de Sales (1567-1622)
Bispo de Genebra, Doutor da Igreja
Conversas, nº 19

quinta-feira, 13 de março de 2014

A ORAÇÃO INCESSANTE DE SANTO AGOSTINHO


 «Pedi, e ser-vos-á dado»


Escuta o que diz [o Salmista]: «Diante de Vós, Senhor, estão os meus desejos» (Sl 37,10). Não estão diante dos homens, que não podem ver o coração, mas «diante de Vós, Senhor». […] Esteja o teu desejo sempre na sua presença; e o Pai, «que vê o [que está] oculto, há-de retribuir-te» (Mt 6,4). Porque o teu desejo é a tua oração. Se o teu desejo for contínuo, contínua será também a tua oração. Não foi em vão que disse o Apóstolo: «Orai sem cessar» (1Tess 5,17). Será preciso, então, estar continuamente de joelhos, prostrados, de mãos erguidas, para obedecer a este preceito: «orai sem cessar»? Se é isso que entendemos por orar, julgo que não podemos orar sem cessar.

Existe, porém, outra oração interior e contínua, que é o desejo. Nem que estejas ocupado a fazer outra coisa, se desejas o descanso eterno em Deus, não interrompes a oração. Se não queres interromper a oração, não interrompas o desejo. Se o teu desejo é contínuo, é contínua a tua voz. Calar-te-ás se deixares de amar. Quem é que se cala? Aqueles de quem foi dito: «Pela abundância da iniquidade resfriará o amor de muitos» (Mt 24,12). A frieza do amor é a mudez do coração, mas o fervor do amor é o clamor do coração. Se o amor permanece sempre (cf 1Cor 13,8), clamas sempre; se clamas sempre, desejas sempre; se desejas, recordas-te daquele descanso.

«Diante de Vós, Senhor, estão os meus desejos […] e não Vos são ocultos os meus gemidos» (Sl 37,10). […] A verdade é que, se permanece o desejo, permanece também o gemido. Nem sempre ele chega aos ouvidos dos homens, mas nunca deixa de chegar aos ouvidos de Deus.

Santo Agostinho (354-430)
Bispo de Hipona (Norte de África), Doutor da Igreja 
Comentários sobre os Salmos: Salmo 37 (Ofício de Leitura de 6ª feira da 3ª semana do Advento)

quarta-feira, 12 de março de 2014

AMAR JESUS ATÉ À LOUCURA

Assim lhe dizia Jesus (10 de Novembro de 1936):

  "Consolata, nunca devemos pensar unicamente em evitar defeitos, mas o nosso esforço deve tender para amar Jesus até à loucura. Quero ser amado por ti até à loucura."

   Amar Jesus até à loucura! Mas poderá uma alma chegar a tanto? Pode, com a graça de Deus, tendo sido exactamente isso que Jesus prometeu à Irmã Consolata (11 de Novembro de 1935):

  "Confia, Consolata, Eu sou o Omnipotente e amo-te até à loucura; também tu me amarás até à loucura. Eu to prometo!"

    E qual será o meio para chegar a um amor tão intenso? O ato incessante de amor. Um dia (22 de Julho de 1936), Jesus fazia a Irmão Consolata ouvir o seu convite insistente:

   "Ama-me, Consolata; ama-me muito!"

   E, tendo ela perguntado o que fazer para amar tanto, respondia: "Com o ato de amor incessante!"
Alguns dias depois (2 de Agosto), repetia: "Com um ato incessante de amor amar-me-ás até à loucura!"

   O segredo consiste em imprimir neste ato contínuo de amor a intensidade máxima De fato, a Santíssima Virgem instruía a Irmã Consolata, como se pode ver no seu diário (14 de Julho de 1936):

   "...No recreio tinha-se dito que quem faz mais sacrifícios mais ama Deus. À noite na meditação, ao pensar nestas palavras, eu estava um pouco triste, porque não faço sacrifícios grandes por Jesus e, no entanto, o meu desejo de amá-lo até à loucura é tão intenso! Portanto, não serei eu uma pobre iludida?... levantei o olhar; na minha frente estava a estátua da Virgem Santa e, enquanto olhava para ela, penetrou em mim um pensamento reconfortante: o que é que a Senhora tinha feito de grande durante os seus anos mortais, em Nazaré? apesar disso nunca haverá uma criatura que a ultrapasse no amor a Deus. E, enquanto pensava nela, prometendo-lhe imitá-la, ouvi:

    "Amar muito a Jesus consiste em dares  ao teu incessante ato de amor toda a intensidade possível de amor!"

   E pode-se concluir que a irmã Consolata amava o mais intensamente possível , através do incessante ato de amor, pelo fato de o próprio Deus ter de intervir para travar os seus ímpetos amorosos. De Fato , o Pai  Divino dizia-lhe (29 de Novembro de 1935):

    "Mesmo no teu ato de amor, calma! Porque, se não procederes com calma, se fizeres violência ao coração com os ímpetos, ele, exausto, já não poderá continuar  o seu canto  de amor.
    Não julgues que seja menos ardente  por ser mais calmo; assim, assegura-se a continuidade, percebeste? De per si, o amor é fogo; por isso, deixa que consuma tranquilamente a minha pequena hóstia.
    Ama a paz, deixa que o amor consuma suavemente , não com ímpeto, com veemência, que te prostra e te impede de me alegrar com o teu canto."

    A propósito, era Jesus quem a exortava noutra vez: "Olha, Consolata, se continuares a amar-me com calma, poderás dar-me este ato incessante; mas se, pelo contrário, quiseres forçar o teu coração a amar-me impetuosamente, serás obrigada a parar, por já não teres forças para progredir."

Retirado do livro: O Coração  de Jesus ao Mundo - Pe  Lorenzo Sales - pgs 149-151

terça-feira, 11 de março de 2014

A VIRGINDADE DE SOFRIMENTO

    "Se te confirmo em graça em relação à virgindade de amor, não julgues que amar-me já não te custa nada. É que a minha confirmação na graça não exclui a luta e o esforço."

     Agora, a luta é sofrimento e para a Irmã  Consolata será sofrimento contínuo, pois continua será a sua luta. Mas a virgindade de amor tem um preço: a virgindade de sofrimento! Deste modo estabelecida num ato incessante de amor virginal, a alma é feita para fazer chegar até Deus todo o perfume dos seus sofrimentos, não o desperdiçando em lamentações estéreis nem se fechando perigosamente em sí própria e sem nunca assumir publicamente atitudes de vítima ou quaisquer outras - reais ou simuladas - que são próprias de quem se finge de vítima. Jesus confirmava-lhe tudo isso, dizendo (9 de Dezembro de 1935):

" Olha, a virgindade do amor anda a par da virgindade da mente.
   Quando uma alma se restabelece nesta virgindade de amor, nada consegue perturbá-la, pois estárá como confirmada na paz.
   Repara na Santíssima Virgem aos pés da cruz: sofre, mas que dignidade no seu sofrimento! Está a vê-la? Num mar de dores, nem um lamento; não se deixa desfalecer  nem abater, nada, nada... Aceita, sofre e oferece até ao consumatum est, com calma e fortaleza.
   Quero que sejas assim nos dias de dor e a virgindade de amor ajudar-te-á a sê-lo."
   Além disso, dava-lhe o motivo pelo qual a virgindade de amor coloca a alma numa paz tão perfeita e estável (10 de Dezembro de 1935):
"Na verdade, em verdade vos digo: todo aquele que comete o pecado, é servo do pecado" (jo 8,34). Assim tu, se deixares entrar um pensamento, se pronunciares uma frase não exigida, ficarás serva da tua infidelidade.
  A serva é escrava e a escravidão esmaga. É por isso que, depois de uma infidelidade, sentes a tua alma envolta em tristeza e não sabes como levantar-te a não ser recorrendo a Jesus.
  Mas se, ao contrário, resistires à tentação, se fores fiel, sentes-te livre e forte e pronta para todos os sofrimentos. Percebeste, Consolata? Lembra-te sempre disto!"
  Juntamente  com a fortaleza no sofrimento, a virgindade de amor comunica à alma a verdxadeira alergia que nada nem ninguém poderá roubar; ela é como que confirmada na alegria tal como na paz (13 de Dezembro de 1935):
  " Consolata, vês a candura da neve que te rodeia?--- Pois bem, permanece assim, na virgindade de mente, de língua e de coração e o sofrimento ser-te-á sempre doce, porque é só a infidelidade que te faz sofrer, o resto não, porque sofrer por amor a Jesus e às almas é alegria."
   A alusão de Jesus à brancura da neve exprime bastante bem outro fruto  da virgindade de amor que é o de levar a alma a uma pureza extrema. E, em primeiro lugar, pureza de  mente ( 2 de Dezembro de 1935):
   " Olha, enquanto amas, o demónio não podes inocular em ti um pensamento mau, porque todas as tuas faculdades estão absorvidas pelo amor; mas se cessares, então ele já pode. Por isso ama sempre."
   Depois , também pureza de alma e de corpo (11 de Junho de 1936): "Este ato incessante  de amor dá-te a tríplice virgindade: de coração, de corpo e de espírito."
   Porque, sendo fiel às promessas, Jesus infunda na alma que está assim tão intimamente unida a Ele, a sua própria pureza virginal (25 de Novembro de 1935); "Consolata, virgindade de mente: sim, só Eu!... Virgindade de coração: só para mim!... Virgindade de língua: fala só comigo!... Virgindade de corpo: Eu infundo-a em ti!"
   
Retirado do livro: O Coração  de Jesus ao Mundo - Pe  Lorenzo Sales - pgs 145-147

VIRGINDADE DE AMOR

 
Já se disse que o exercício do ato de amor não se pode concretizar se a alma não conseguir um rigoroso silencio  de pensamentos e de palavras. Acrescenta-se porém, que o ato incessante de amor é, por sua vez, uma valiosíssima ajuda (indispensável para a maior parte das almas) para se manter quer na virgindade de mente, servindo para não a deixar divagar; quer na virgindade de coração, não o deixando pousar em nenhuma coisa terrena; quer, ainda, na virgindade de língua, mantendo a alma num contínuo e virtuoso silêncio. Também aqui os ensinamentos divinos à Irmã Consolata são muito claros.
    No que se refere à virgindade de mente e de língua, dizia-lhe (16 de Setembro de 1936): "É necessário que tenhas um tal domínio dos sobre os teus pensamentos e sobre as tuas palavras que o demónio nunca possa nada contra ti e este domínio te favoreça o ato do amor."
    E em relação à virgindade de coração (1 de Dezembro de 1935): "Só a continuidade do ato de amor garante a virgindade do teu coração."
    Contudo, não só Jesus pedia à Irmã Consolata a continuidade do ato de amor, como também a virgindade do ato de amor: por isso, não só não perder nenhum ato de amor (com o coração), mas também  nunca distrair a mente. É a verdadeira e perfeita virgindade de amor.
    Já em 17 de Outubro de 1935, ao avisar contra as armadilhas do inimigo em relação à continuidade do ato de amor, dizia-lhe: "Olha, o que o inimigo quer é impedir-te o ato de amor contínuo. É esta a razão de toda esta luta obsessiva de pensamentos. Basta-lhe qualquer pensamento- mesmo bom, desde que não me ames."
    Depois, passando a explicar mais claramente em que consiste a virgindade de amor, dizia-lhe (6 de Dezembro de 1935): "Sabes em que consiste a pureza do teu ato de amor? Em não admitires nele nenhum pensamento porque, ao mesmo tempo podes amar com o coração e com a mente pensar noutra coisa.
    Não, a pureza do ato amor, exclui todos os pensamentos, exige a virgindade da mente, percebeste? Por isso, quero que dês o ato de amor.
   Não temas, ajudo-te a que mo dês em toda a pureza, e por isso, não admitindo nada de ti, dá-me tudo, amando-me!"
    Além disso, explicava-lhe que os pensamentos estranhos ao amor podem ofuscar a pureza do ato de  amor (6 de Dezembro de 1935):
    "Olha, até nos pensamentos bons que se infiltram em ti há algumas coisa de amor-próprio e de complacência, deturpando o ato de amor.
    Mas, se tu confiares cegamente que eu penso e pensarei em tudo, nunca deixarás entrar nenhum e  o teu ato de amor terá uma pureza virginal."

Retirado do livro: O Coração  de Jesus ao Mundo - Pe  Lorenzo Sales - pgs 144-145

PREFERIR MORRER A DEIXAR ENTRAR UM PENSAMENTO INÚTIL...

"... Esta manhã, eu estava só no laboratório, mas sentia-me unida ao Coração de  Jesus. Embora ansiasse por unir-me oficialmente a Ele (depois da permissão do diretor espiritual pelo voto de não perder um ato de amor, a natureza tentava resistir, pois temia que este ato de amor, a natureza tentava  resistir, pois temia que este  ato a crucificasse interiormente. Começo a compreender que o ato incessante de amor dá tudo a Deus porque lhe imola não só os pensamentos mas também as palavras e a fantasia, etc. É a morte da natureza!"
 
     Portanto, estamos diante não de um entusiasmo efémero, mas da consciência de um voto crucificante, o que lhe foi confirmado pelo próprio Jesus. No dia 13 de Junho, numa das referidas conferências, o seu espírito ficou impressionado com esta frase: "Sede valorosas como Maria Santíssima; aprendei a cantar especialmente quando fordes crucificados com Jesus."
Então, Jesus sussurrou-lhe ao coração: "Quero que sejas assim; por isso, na sexta-feira, quando o Amor te imolar totalmente, ligar-te-ás a mim pelo voto de nunca perder um ato de amor. Quero que sejas assim, sempre assim."

    Na noite de 18 de Junho, véspera da festa, ela fazia esse voto difícil.
    "... Esta noite, no Coro, Jesus estava exposto. Pensei que as prendas oferecem-se na véspera das festas. Amanhã é a sua festa, do seu Coração... A meditação falava de um Coração que amou muito os homens e dos quais só recebe ingratidões.  Confesso que a minha alma não estava pronta para emitir o voto de amor que me era pedido . Humilhei-me, confessei ao Coração Divino as culpas que não tinha podido depor aos pés do seu Ministro e senti dor por elas... A luta acabou numa paz profunda. Implorei a ajuda dos meus santos protetores e, depois, a Deus Trindade adorável, com a intercessão da minha Mãe Imaculada e de São José, emitiu o voto do ato incessante de amor, sem nenhuma suspensão nem à mesa nem no trabalho nem no recreio... A alegria intima e tranquila, a confiança de que me será concedida a graça de perseverar e muitos outros dons inundaram minha alma. Jesus, confio em ti!"
    Repara-se bem na extensão atribuída pela Irmã Consolata ao seu voto: o ato de amor deveria ser tão incessante que nunca permitisse a mínima suspensão, fosse a que hora fosse do dia. É evidente que para tal é precisa não só uma chamada especial de Deus - que é justamente a vocação de amor -, mas também uma graça igualmente especial. Aliás, o Senhor não a negava a esta alma por Ele escolhida para indicar ao mundo a doutrina e a pratica do ato incessante de amor.
   Isto não impede que o voto que ela emitiu tenha sido algo mais do que simplesmente levar a cruz: era permanecer na cruz para nela consumar o holocausto de amor. "Hoje - escreve no diário a 23 de Maio de 1936 -, senti continuamente a sede do sofrimento e à noite, quando me deitava, ouvi: "Se tu conhecesses o valor de um ato de amor!..."  E compreendi que será este contínuo ato de amor que consumirá, dando cumprimento a tudo."
   De fato, depois da emissão do voto, Jesus dir-lhe-á claramente (8 de Julho de 1936): "Agora, já não levarás a cruz porque já vives nela; deves perseverar na Cruz com o ato incessante de amor. Coragem, Consolata!"
   Foi esse o verdadeiro programa de vida espiritual da Irmã Consolata; programa que ela compendiava nestas palavras: "Amar-te verdadeiramente, ó Jesus, é preferir morrer a deixar entrar um pensamento inútil; é antes morrer que pronunciar uma frase não exigida ou estritamente necessária; é morrer a interromper o ato de amor."
   E era profundamente sincera no que dizia ou escrevia.

Retirado do livro: O Coração  de Jesus ao Mundo - Pe  Lorenzo Sales - pgs 141-143

ISTO É SER VÍTIMA DE AMOR

Na noite anterior à primeira sexta-feira, durante a Hora Santa, preparando a Irmã Consolata para o seu novo ato de consagração, Jesus dizia-lhe:

"Consolata, a sede de amor de Jesus, o seu pedido de reparação pelos teus "Irmãos" e "Irmãs" não te diz tudo?
  Sim, dei-te tudo; agora, dá-me tudo: todo o teu amor, todas as palpitações do teu coração no ato incessante de amor. Nada mais quero, porque só neste ato incessante de amor me dás tudo, tudo de tí e pelos teus "Irmão".
  Eis em que quero que me demonstres a tua fidelidade e generosidade: na renúncia completa a todos os pensamentos, a todas as palavras, para nunca interromperes o teu ato de amor: amar sempre, aceitando todas as consequências, sem nenhuma interrupção!
  Bem sei que isso consome docemente e mata a minha Consolata... isso é ser vítima de amor!"

Depois, em resposta à perplexidade natural da vítima, sempre receosa de não corresponder plenamente aos desígnios divinos e pesarosa pelas pequenas infidelidades involuntárias de amor, prosseguia com ternura divina:

"Não Consolata, não:a minha omnipotência é grande e o que te pede, concede-te também a graça para mo conseguires dar (cf. Dt 30, 11.14).
 Queres a minha bênção para que sele a tua vontade e lhe dê tenacidade para preservar até ao fim, sem nunca interromper este ato de amor com um pensamento ou com uma palavra?
 Pois bem, sim! Abençoo-te e nunca mais o interromperás: é esta a minha prenda para ti, da primeira sexta-feira de Dezembro".

Na manhã seguinte, Jesus cumpria a anunciada consagração, sem nada de extraordinário externamente:

"Hoje, consagro-te vítima de amor. Não te tiro com um dardo, mas inflamo-te no silencio e nunca poderás interromper o teu ato de amor, mesmo que o quisesses.
   Juntamos o tempo que ainda te resta viver, daqui até a tua última hora, a este ato incessante de amor. Acredita que nele me dás tudo.
  Sim Consolata, desprezaremos, calcaremos aos pés todos os obstáculos e amaremos , incessantemente, até ao último suspiro... Porque disso assumo  Eu a responsabilidade."

Retirado do livro: O Coração  de Jesus ao Mundo - Pe  Lorenzo Sales - pgs 140-141

segunda-feira, 3 de março de 2014

HERÓICA NA CONTINUIDADE DO AMOR

      - Em suma, Jesus queria que ela (Irmã Betrone) fosse de tal modo heróica na continuidade do amor que nela atingisse a perfeição máxima (31 de Julho de 1936): "Quero que no teu dia chegues a não me roubar um só ato de amor que seja; nenhum, percebeste?" 
       Assim, a vocação especial da Irmã Consolata, a sua missão a favor dos irmãozinhos, a sua própria santificação, tudo se devia realizar através do amor incessante. Na primeira sexta-feira de Fevereiro de 1935, Jesus dizia-lhe: "Esquece tudo, ama-me continuamente, com coração de gelo ou de pedra, não importa! Está tudo lá e tudo depende disso: de um ato incessante de amor, de mais nada!"
       E mais claramente ainda (16 de Dezembro de 1935): "Deves dar a Jesus aquilo que só Ele quer da tua vocação, isto é, o ato incessante de amor, qualquer que seja o estado de alma em que te encontres."
       Nota-se  premente insistência divina para manter firme a Irmã Consolata na continuidade de amor em todas as condições de espírito. De fato, amar sem "sentir" é um martírio íntimo e não são poucas as almas que, nesse estado de alma, se abstêm de fazer atos de amor, com medo de não corresponderem à verdade. É uma astúcia do inimigo para impedir a alma de amar.
       É evidente que, neste caso, a continuidade de amor custa à natureza e também  custava à Irmã Consolata contra quem o demónio travava todas as lutas possíveis. Por isso, Jesus dizia-lhe para alertá-la (10 de Outubro de 1935): "Consolata, não te aflijas por o demónio e as tuas paixões desencadearem na tua alma todas as lutas possíveis; não te preocupes com os trovões, as tempestades e os raios; deves dizer a ti mesma: "Quero continuar sem medo o meu ato de amor de uma Comunhão até á outra; é este o meu dever, o meu único dever". E assim, em frente! Mais nada."

Retirado do livro: O Coração  de Jesus ao Mundo - Pe  Lorenzo Sales - pgs 125-126


domingo, 2 de março de 2014

VOTO DE PERFEIÇÃO

     


         "Eis as circunstancias do voto a que, desde há muito tempo, me sinto impedida, e que não quis fazer sem o conselho do meu diretor e da minha superiora ( o P. Rollin, S.J. e a Madre Maria Cristina Melin.). Depois de o terem examinado, permitiram-mo, com a condição de quando me causasse inquietação ou escrúpulos, ... desligarem-me dele e cessaria o meu compromisso...
       Voto feiro na vigília de Todos-os-Santos para me unir, consagrar e imolar mais íntima, absoluta e perfeitamente ao sagrado Coração de N. S. Jesus Cristo.
        Primeiro: Ó meu único Amor, esforçar-me-ei por vos submeter e sujeitar tudo o que há em mim, fazendo o que considere mais perfeito e da maior glória do vosso sagrado Coração, ao qual prometo nada poupar, nem nada recusar fazer ou sofrer a fim de o dar a conhecer, amar, honrar e glorificar.
        Não negligenciarei nem omitirei nenhum dos exercícios e prescrições das minhas Regras, a não ser por caridade ou verdadeira necessidade, por obediência, à qual submeto todas as minhas promessas. Não evitar nenhum sofrimento, quer do corpo quer da alma, humilhação, desprezo ou contradição.
        Não pretender ou procurar outra consolação, prazer ou contentamento que não seja o de os não ter na vida, e quando a Providência mos apresentar, tomá-los-eis simplesmente, não por prazer, ao qual renuncio interiormente,... não me demorando a pensar se me apraz ou não, mas, antes, amar o meu Senhor, que me dá este prazer... Deixarei inteira liberdade à minha superiora de dispor de mim, como melhor lhe parecer, aceitando humilde e indiferentemente as ocupações que a obediência me der. Apesar da horrível repugnância que sinto por todos os cargos, esforçar-me-ei por nunca manifestar a minha relutância nem a que tenho em ir ao locutório ou em escrever cartas, fazendo tudo isso, como se me desse gosto...
        Considerarei todos os que me mortificarem ou disserem mal de mim, como os meus melhores amigos, tentando prestar-lhes todo o bem e atenções possíveis...
        Não procurarei a amizade de nenhuma criatura, a não ser que o sagrado Coração de Jesus Cristo me incite a isso, para levá-la ao seu amor ...
        Não me demorarei voluntariamente em pensamentos, não só maus, mas até mesmo inúteis, e considerar-me-ei como uma pobre na casa de Deus, que deve submeter-se a tudo, a quem tudo se faz e dá por caridade, e pensarei que até tenho sempre demasiado ...
        Diante de tudo, senti-me penetrada de tão grande temor de faltar, que não teria coragem de me comprometer, se não fosse fortificada e animada por estas palavras que me foram ditas, no mais intimo do coração: "que temes, se eu respondi por ti e me tornei teu fiador? A unidade do meu puro amor será a tua atenção na multiplicidade de todas estas coisas; e prometo-te que ele reparará as faltas que nisso poderias cometer e ele mesmo compensará por ti".
       Estas palavras imprimiram em mim tão grande confiança, que apesar da minha fraqueza, já nada temo, colocando em Deus a minha confiança que tudo pode, da qual tudo espero, e nada de mim."

Santa Margarida-Maria Alacoque - Autobiografia -Editorial Apostolado Oração - Braga, pgs.115,117

AMOR AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO, E DESEJO DA COMUNHÃO

   

         " Ali passaria dias e noites inteiras sem comer nem beber, e sem saber o que fazia, consumindo-me em sua presença como tocha acesa, para lhe pagar amor com amor. Nem podia ficar ao fundo da igreja; e por mais confusão que em mim sentisse, não deixava de me aproximar o mais possível do Santíssimo Sacramento. Só julgava felizes e só invejava as pessoas que podiam comungar muitas vezes, e que tinham liberdade para ficar diante do Santíssimo; ainda que é verdade que ali eu empregava muito mal o meu tempo, e creio que não fazia senão faltar-lhe com as honras devidas.
      Procurava ganhar amizade das pessoas de que acima falei, para alcançar alguns momentos para o Santíssimo Sacramento. acontecia que, em castigo dos meus pecados, não podia dormir nada na véspera do Natal; e o pároco, na homilia, a clamar a grandes vozes que aqueles que não tivessem dormido, não podiam comungar, e que era preciso ter dormido antes. Por isso eu , que não podia dormir, não me atrevia a comungar (1). Assim, este dia de regozigo era para mim de lágrimas, e estas eram todo o meu alimento e todo o meu prazer".

(1)  Nesta época, não era rara a estranha opinião popular de que era preciso dormir, antes de comungar, na noite de Natal. E não há dúvidas que assim opinava também o Pe. António Alacoque, pároco de Verosvres.

Santa Margarida-Maria Alacoque - Autobiografia -Editorial Apostolado Oração - Braga, pgs.21,22

ATRATIVO PARA A ORAÇÃO

    "... No meio de tudo isto sentia-me tão fortemente atraída para a oração, que me dava grande pena não saber nem poder aprender como a havia de fazer, porque não tinha nenhum trato com pessoas espirituais, e não sabia de oração mais que o nome, que atraía a minha alma. Mas, acudindo ao meu soberano senhor, Ele me ensinou como queria que eu a fizesse, e isto me serviu para toda a vida. Mandava-me prostrar humildemente diante de si, para lhe pedir perdão de tudo aquilo em que o tivesse ofendido; e depois de o adorar, oferecia-lhe a minha oração, sem saber ainda como me havia de haver nela. Logo ele mesmo se me apresentava no mistério, em que queria que eu o considerasse.

     E tão fortemente absorvia ele o meu espírito, embebendo em si a minha alma e todas as minhas potências, que não entrava comigo distração alguma; pelo contrário, sentia o coração consumido em desejos de o amar; e daqui me nasci uma fome insaciável da sagrada comunhão e de sofrimentos; mas não sabia como orar. Não tinha outro tempo senão o da noite; dela tomava o que podia; e embora esta ocupação me fosse tão deliciosa, quanto sou incapaz de o explicar, não o tomava como oração, e sentia-me continuamente impelida a entregar-me a ela, e prometia ao Senhor que, logo que ele ma ensinasse, lhe havia de dar todo o tempo que pudesse. Mas sua divina Bondade tinha-me tão elevada na ocupação agora descrita, que me fez perder o gosto das orações vocais, e já não era capaz de as rezar diante do Santíssimo Sacramento, onde me sentia tão absorta, que nunca me aborrecia".

Santa Margarida-Maria Alacoque - Autobiografia -Editorial Apostolado Oração - Braga, pgs.20,21

sábado, 1 de março de 2014

Deixai vir a Mim os pequeninos


Bem sabeis, minha Madre, que sempre desejei ser santa. Mas, ai de mim!, sempre verifiquei, ao comparar-me com os Santos, que há entre eles e eu a mesma diferença que existe entre uma montanha, cujo cume se perde nos céus, e o obscuro grão de areia pisado pelos pés dos caminhantes. Em vez de desanimar, disse para comigo: «Deus não pode inspirar desejos irrealizáveis. Posso, portanto, apesar da minha pequenez, aspirar à santidade. Fazer-me crescer a mim mesma é impossível; tenho de suportar-me tal como sou, com todas as minhas imperfeições. Mas quero procurar a maneira de ir para o céu por um caminhito muito direito, muito curto, um caminhito completamente novo.

Estamos num século de invenções. Agora já não se tem a maçada de subir os degraus de uma escada; em casa dos ricos, o ascensor substitui-a vantajosamente. Eu queria também encontrar um ascensor que me elevasse até Jesus, porque sou demasiado pequena para subir a rude escada da perfeição. Então, procurei nos Livros Sagrados a indicação do ascensor, objecto do meu desejo, e li estas palavras saídas da boca da Sabedoria eterna: “Se alguém for pequenino venha a mim!” (Prov 9,4).

Então aproximei-me, adivinhando que tinha encontrado o que procurava, e querendo saber, ó meu Deus!, o que faríeis ao pequenino que respondesse ao vosso apelo. Continuei as minhas buscas e eis o que encontrei: “Como uma mãe acaricia o seu filho, assim Eu vos consolarei; levar-vos-ei ao colo e embalar-vos-ei nos meus joelhos!” (Is 66,12-13) Ah! Nunca palavras tão ternas e tão melodiosas me vieram alegrar a alma! O ascensor que me deve elevar até ao céu são os vossos braços, ó Jesus! Para isso não tenho necessidade de crescer; pelo contrário, é preciso que permaneça pequena, e que me torne cada vez mais pequena. Ó meu Deus!, excedestes a minha esperança e eu quero cantar as vossas misericórdias.


Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897)
Carmelita, Doutora da Igreja 

Manuscrito autobiográfico C, 2 v°-3 r° (Ed. Carmelo, 2000)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

COM O AMOR DÁ-SE TUDO A JESUS

   
     Tantas insistências divinas para que a alma concentre os seus esforços no único dever de amar demonstram com evidência que o amor é tudo e que, por isso, através do amor, a alma dá realmente tudo a Jesus. Porventura, não terá sido esta a grande descoberta que deu asas a Santa Teresinha para realizar a sua santificação e pôr em prática os magnânimos desejos de apostolado? "A caridade deu-me a chave da minha vocação. Compreendi que, se a Igreja tinha um corpo, composto de vários membros, não lhe poderia faltar o mais necessário e o mais nobre de todos; compreendi que a Igreja tinha um Coração e que este coração ardia de amor. Compreendi que só o Amor fazia com que os membros actuassem na Igreja; que, se o Amor viesse a extinguir-se, os Apóstolos nunca mais anunciariam o Evangelho, os Mártires recusariam derramar o seu sangue... Compreendi que o Amor encerrava todas as Vocações, que o Amor era tudo" - Santa Teresinha do Menino Jesus, Manuscrito "B", 254.
     Falamos da descoberta de Santa Teresinha; Foi de fato, pela sua alma, mas o mesmo não poderia dizer no campo doutrinal da Igreja católica. Se as considerarmos, as referidas palavras da Santa são o eco - aliás, substancialmente fidelíssimo - do grande ensino do Apóstolo que, depois de ter recordado a verdade sublime da nossa incorporação em Cristo, afirma: "Vós sois o corpo de Cristo e cada um, pela sua parte, é um membro" (1 Cor 12, 27). Agora, cada membro tem o seu dom e não deve invejar os dons dos outros, embora aspire aos carismas mais altos. Por isso, acrescenta "Aspirai aos melhores dons" (Ibidem, 12, 31): isto é, melhor de todos os dons carismáticos, de todos os mistérios que se exercem na Igreja, de todas as obras que se realizam. Qual é este caminho? O Apóstolo responde, destilando aquele maravilhoso hino ao amor que bem pode dizer-se a síntese dogmática e moral da mensagem evangélica e que constitui o capítulo 13 da primeira Carta aos Coríntios. Transcreve-se aqui a sua primeira parte:
    
     "Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como um bronze que soa ou um címbalo que retine.
      Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios de toda a ciência, ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas, se não tiver amor, nada sou.
     Ainda que eu distribua todos os bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me aproveita" (1Cor 13, 1-3).

     Portanto, se as obras no campo do bem - ciência, fé, esmola, sacrifício e até o martírio -tanto individualmente como no seu conjunto, são nada e nada valem sem o amor, conclui-se que só o amor conta, só o amor é verdadeiramente tudo; e que, por isso, uma alma, não chamada ou impossibilitada de realizar essas obras, se contudo ama a Deus com todo o seu coração, com todo o entendimento, com toda a sua força, na realidade ela dá tudo a Deus.
    Foi este o ponto de partida pela santa Teresinha para abraçar o caminho do amor e também foi para a Irmã Consolata, a quem Jesus confirmava:
    "Ama-me, Consolata, ama-me apenas; no amor está tudo e tudo me dás" (7 de Agosto de 1935)
    "Quando me amas, dás a Jesus tudo o que Ele deseja das suas criaturas: o amor!" (20 de Setembro de 1935).
     Por isso, não queria que dispensasse as suas energias espirituais na multidão dos propósitos, sempre pouco concludente, enquanto neste único propósito do amor estão encerrados todos os outros (1 de Dezembro de 1935): "O amor é tudo: agora, fixa-te neste único propósito, dá tudo a Jesus."
    Não há dúvidas de que é necessário observar a lei, mas quem a observa? Aquele que ama. "Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra" (Jo 14, 23). E Jesus à Irmã Consolata (15 de Novembro de 1935) : "Vês, Consolata, as minhas criaturas fazem-me mais temível do que bom e, no entanto, Eu rejubilo por ser bom e sempre bom. E o preço? O amor e só o amor, porque quem me ama, serve-me."
    ... Portanto, quem observasse a Lei, mas apenas por temor, não faria obra perfeita, como Jesus explicava à Irmã Consolata (16 de Novembro de 1935):
    "Olha, anseio por que minhas criaturas me sirvam por amor. Mas evitar a culpa por temor dos meus castigos não é o que desejo das minhas criaturas.
    Quero ser amado, quero o amor das minhas criaturas; e, quando me amarem, nunca mais me ofenderão.
    Quando duas criaturas se amam verdadeiramente, nunca se ofendem; e, assim - e só assim - haverá de ser entre o Criador e as suas criaturas."

Retirado do livro: O Coração  de Jesus ao Mundo - Pe  Lorenzo Sales
    

domingo, 23 de fevereiro de 2014

E AS DIVINAS COMPLACÊNCIAS

     "Olha, Consolata, as criaturas costumam medir a virtude de uma alma pelas graças que Eu lhe concedo; mas enganam-se porque sou livre de agir como quiser.
      Por exemplo, terá sido a tua virtude que mereceu as grandes graças que te concedi? Pobre Consolata, não tens virtude, não tens méritos, não tens nada. Tiveste culpas, mas já não existem porque as esqueci para sempre.
     Então, porque a ti, precisamente a ti, tantas e tantas graças? Porque sou livre de beneficiar quem quiser. Os pequeninos são a minha fraqueza. Eis tudo!... E ninguém pode acusar-me de injustiça, porque o Soberano é livre de beneficiar  regiamente quem quiser."

O Coração de Jesus ao Mundo - Pe Lorenzo sales - Ed. Paulinas
    

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

LXV.- DO MEIO UTILIZADO PELA ALMA PARA ATINGIR O AMOR PURO E GENEROSO


1.- Quando a alma entrou no caminho da perfeição, passando pela doutrina - de Jesus crucificado, com o amor autentico da virtude e do ódio pelo vício, quando ela chegou pela santa perseverança na célula do conhecimento de si próprio, ela ai clausura-se nas vigílias e na oração continuada, e ela separa-se da conversação dos homens. Porque se isola? Ela isola-se com medo causado pela visão da sua imperfeição , e pelo desejo de chegar a obter o amor generoso e perfeito. Ela vê e compreende que não se pode chegar  por outro meio, e ela espera com fé viva a minha vinda para a graça nela. Em que se reconhece esta fé viva? Na perseverança da virtude e na santa oração, alguma coisa que aconteça. A menos que seja por obediência  ou por caridade, nunca devereis abandonar a oração.

2.- Muitas vezes o demónio obceca mais a alma de suas tentações durante o tempo destinado a oração que durante o tempo que não esta em outra atividade: ele queria inspira-lhe o tédio pela oração. Por vezes ele diz: esta oração não lhe serve a nada, porque não deve estar tão distraída. O demónio esforça-se por este meio de a confundir e, de desgostar a alma do exercício da oração, porque a oração é uma arma com a qual a alma se defende contra todos seus inimigos, quando ela a pega com a mão de amor e o braço do livre arbítrio, e que ela combate à luz da santa fé. (103)

(Dialogos de Santa Catarina de Sena - Tratado da Oração)


DIALOGOS DE SANTA CATARINA DE SENA
Doutora da Igreja Católica - 1347 - 1380 


Tratado da oração
LXXII - A ALMA QUE SE CONHECE EVITA OS ENGANOS DO DEMÓNIO

1.- Eu não quis esconder-te, minha filha muito amada, do erro onde caem frequentemente os homens que deleitam-se no pouco bem que fazem em tempo de consolação e aquele dos meus servidores que agarram-se tanto as doçuras espirituais, que não conseguem mais conhecer a verdade do meu amor e discernir onde se encontra o pecado. Disse-te da cilada que o demónio lhes estende pelas suas faltas caso não siguam pelo caminho que lhes ensinei. Assim tu e os outros servidores, deveis caminhar pela virtude por amor por mim, e não por outro motivo.  
2.- Estes erros e seus perigos são destinados para aqueles cujo amor é imperfeito, ou seja áqueles que amam mais os benefícios do que a mim. Mas a alma que entrou no seu próprio conhecimento, na prática da oração perfeita, ao rejeitar a imperfeição do amor e da oração, como já te expliquei, esta alma recebe-me pelo amor; ela esforça-se de atrair a ela o leite da doçura no seio da doutrina de Jesus crucificado.      
3.- Ela chegou ao terceiro estado, quer dizer ao amor terno e filial; ela não possui um amor mercenário, mas ela age comigo como um amigo que age com seu amigo que lhe dá um presente: ele não olha pelo presente, mas no coração daquele que dá, e ele gosta do presente pelo amor que tem pelo amigo. Assim faz a alma que atingiu ao amor perfeito. Quando ela recebe meus benefícios e minhas graças, ela não para no presente, mas sua inteligência contempla a grandeza da minha caridade oferecida. 
4.- Para que a alma não possa desculpar-se de não reagir assim, eu quis unir o benefício ao benfeitor, ao unir a natureza humana à natureza divina, quando vos dei o Verbo, meu Filho único, que é igual a mim, e eu a ele. Nesta união podeis ver o presente sem ver aquele que o faz. Entendeis então com qual amor deveis amar o dom e o dador. Se fazeis isto, tereis um amor, não mercenário, mas puro e generoso, como aquelas que se isolam no conhecimento de si próprio.

(tradução própria do texto em língua francesa)
http://jesusmarie.free.fr/index